Sabe quando te dá aquele vazio por perceber o quanto você se identifica com situações tristes? E, para piorar, você percebe que quando vê situações felizes, de amores que deram certo, rola uma admiração, mas nenhuma identificação, como se aquela cena não tivesse nada a ver com você?
Bom, pois é isso que sinto. O vazio de achar algo lindo, mas saber que nunca vai ser seu. De saber que, mesmo que isso venha a acontecer, você nunca vai saber o que fazer, como agir e vai simplesmente estragar tudo para voltar ao lugar que você já conhece. Onde as coisas dão errado e os sentimentos são de dor e sofrimento.
É triste reconhecer isso. Perceber que estamos condicionados a permanecer em nossa zona de conforto e que ela não é tão confortável assim. Percebi o quanto fico tocada pelas cenas de amores impossíveis, de rejeições colossais e como acho legais amores que dão certo, mas penso isso não é para mim.
Cresci ouvindo o quanto era inadequada e o quanto precisaria me esforçar muito para merecer algum afeto, alguma demonstração de amor. E o mais dolorido era ver que quanto mais me esforçasse, isso nunca era suficiente. Só recebia sorrisos amarelos em troca ou a famosa frase: não faz mais do que a sua obrigação. A partir de então, passei a ser a minha própria juíza, cobrando cada vez mais de mim e lutando com todas as minhas forças pela perfeição para ser merecedora de algumas migalhas de amor.
Demorou muito tempo, muitas lágrimas e muitas noites sem dormir para eu perceber que isso não é amor. Isso nem de longe faz parte de um sentimento nobre. Isso é abuso. Isso dói e vai te matando aos pouquinhos.
Passei a me ver da forma como tudo isso me tornou e me vi pequena, frágil, machucada e indefesa. Abafei tudo o que sempre fui para agradar quem nunca se importou comigo, com quem depositou suas próprias frustrações no que eu sou. Rejeitei o meu eu de verdade para ser uma representação do que os outros acham que é o ideal. E desacreditei cada vez mais de mim.
O nível de sofrimento chegou tão fundo que não havia muito mais para onde ir, senão lutar para voltar à superfície. Com isso, passei a me enxergar de verdade. Dói, mas agora o que eu mais quero é proteger aquela menina frágil e em carne viva. Quero mostrar para ela que ela merece todo o amor e carinho do mundo e que para isso ela não precisa se esforçar para merecer. O amor vem. Primeiro quando a gente se aceita e passa a amar cada pedacinho de si mesmo. Passa a cuidar das feridas e cuidar com muito orgulho da casa que você é.
Hoje eu pego essa menina pela mão e levo-a para passear, mostro coisas bonitas, mostro do que ela é capaz e estamos aprendendo juntas sobre aceitação e sobre acreditar em si mesma. Um passo de cada vez, uma conquista depois da outra. Tudo vai se encaminhando para o devido lugar. A gente tropeça às vezes? Sim, como não poderia ser? Mas estamos aprendendo que a queda faz parte e nos fortalece e não nos torna inferiores como sempre nos disseram. Eu quero que ela tente mais, arrisque mais. Nunca ninguém esteve ali para ela, mas eu vou estar e vai ter que bastar. Esse amor próprio não deve ter fim.
Todos os dias ela continua ouvindo o quando é inferior, o quanto é indesejada e o quando é inadequada. Desde a escolha das suas roupas, até a sua própria essência. Quando expõe o que pensa e o que sente, é vista com deboche, é ridicularizada e continua ouvindo o quando deve se calar, pois não tem valor nenhum, mas, depois de todos os ataques diários, eu a abraço e digo o quanto ela é importante para mim, o quanto a sua opinião tem valor e o quanto ela vale a pena. Nino-a e desejo bons sonhos, pois cada dia é uma luta diferente, mas cada luta nos torna mais fortes.
Agora ela sabe que não é necessário esforçar-se para ser amada. Ela sabe que o amor é leve e que ele virá sim, nas mais diversas formas de demonstração. Ela sabe também que não deve se contentar com migalhas que exigem a sua submissão e a omissão de todos os seus desejos. Sabe que merece ser amada em tempo integral e não apenas por pessoas que a procuram apenas quando não tem mais nada para fazer. Ela sabe o que quer, sabe o que merece e não é arrogância isso. Isso é amor próprio e ela não vai aceitar nada menos do que o amor que ela dá a si mesma.
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