Julho de 2009. Prestes a embarcar para a Itália, onde desfilaria como modelo por uma grife de luxo, Fernando Fernandes sofreu um acidente de carro. Como consequência, ele quebrou a coluna e perdeu os movimentos das pernas. Agosto de 2010, pouco mais de um ano e um mês depois do acidente. Fernando sagrou-se campeão mundial de paracanoagem na Polônia. Escrito com o jornalista Pablo Miyazawa, este livro é um relato emocionante que mostra como um jovem apaixonado por esportes não se deixou abater por uma tragédia e se transformou num exemplo nacional. Incluindo trechos impactantes do diário que Fernando escreveu no hospital dias depois da batida de carro, Inquebrável é uma história de resiliência, fé e, sobretudo, confiança no próprio potencial.
Lançado em julho de 2017, eu tive o prazer de ganhar de presente de um primo que trabalha na Gol uma edição que foi entregue aos funcionários como forma de incentivo e motivação.
Devido à profissão desse primo, recebi o livro no aeroporto, na sala de embarque mais precisamente, e, já no avião, comecei a leitura.
Tinha uma vaga lembrança do Fernando Fernandes, de uma matéria que vi na televisão sobre um ex-BBB e a sua entrada nos esportes paralímpicos. Quando comecei a leitura, lembrei da matéria e fiquei muito interessada nessa história de superação.
Conhecer a história das pessoas sempre foi algo que me fascinou, então mergulhei na leitura.
Inquebrável tem uma linguagem acessível e é de rápida leitura. O livro é dividido em três partes: Parte I - Antes da Queda, que conta a trajetória de vida do atleta, desde sua infância, adolescência, carreira, passando pelo BBB, onde ele ficou conhecido em todo o Brasil e, segundo ele mesmo, não ficou muito bem visto pelas suas atitudes, sua carreira pós-reallity show e como tudo isso afetou a sua vida e suas relações com os outros e consigo mesmo.
Parte II - Diário de um resiliente, três semanas depois de ter sofrido o acidente de carro que o deixou na cadeira de rodas, Fernando começou a escrever um diário para tentar entender tudo o que estava passando e como iria lidar com tudo aquilo. A escrita do autor realmente mostra uma pessoa resiliente e lutadora, pois ele procurava sempre demonstrar força, pensamentos positivos e vontade de seguir em frente. A aceitação da sua nova situação fez parte do processo e realmente nos leva a refletir muito sobre tudo.
Na Parte III - A vida pela frente, Fernando conta como foi o seu processo de alta do hospital, seus planos para os passos seguintes, fisioterapia e treinamentos para ser realmente um atleta de destaque, conta como entrou para a canoagem e tudo o que o esporte lhe proporcionou. Seus prêmios, participações em grandes eventos, até mesmo a saída das competições. O autor compartilha conosco o que sentiu e o que espera do futuro.
Por não conhecer a obra, não tinha grandes expectativas, mas quando comecei a ler, não pude mais parar. A forma aberta e sincera de como a história foi contada, realmente nos faz pensar em tudo o que Fernando viveu e nos leva a pensar em nossas vidas. Refletir sobre tudo isso é muito válido e enriquecedor. Tamanha força de vontade deve servir de inspiração para não nos deixarmos abater diante das dificuldades e sabermos que os nossos limites, muitas vezes são impostos por nós mesmos.
Recomendo a leitura dessa história de transformação e inúmeras superações.
“Sempre fui apaixonado por esportes. Praticava todos os que fossem possíveis, inclusive o futebol, passando por categorias de base de alguns clubes, até me profissionalizar, aos 17 anos. Um ano depois, porém, fui convocado para o Exército Brasileiro, de onde saí com 19 anos. Então fui passar seis meses na califórnia, onde estudei inglês. Paralelamente às atividades esportivas, eu trabalhava como modelo, e ao voltar para o Brasil aceitei o convite de uma agência e fui morar em Nova York, e ainda que morando em um bairro considerado pobre, o Harlem, passei a desfrutar de todos os privilégios de um modelo internacional.
Em uma manhã, recebi uma ligação de minha mãe dizendo que estava havendo uma Guerra nos Estados Unidos. Mal sabia eu que estava na cidade do atentado ao World Trade Center. Isto gerou um caos, pois não podíamos fazer nada além de esperar em casa para saber o que estava acontecendo. Passamos dias na indecisão, porém resolvi que não voltaria ao Brasil, pois aquela seria uma oportunidade única. A partir de então, vários trabalhos surgiram, como campanhas da Abercrombie & Fitch com um dos maiores fotógrafos do mundo, Bruce Weber. Desfilei para Calvin Klein e outros trabalhos um pouco menores, como Coogi Austrália. Ao final da temporada e do ano retornei ao Brasil.
De volta ao lar, segui treinando boxe, como fiz ao longo de todo o período em que estive no mundo da moda, e voltando de um treino fui abordado na rua por um rapaz que se dizia “olheiro” e me convidou para participar da segunda edição do Big Brother Brasil. No início não estava muito confortável com a idéia, cheio de dúvidas, mas aceitei gravar um vídeo teste. Duas semanas depois eu já estava dentro do programa. Lá permaneci por três semanas e fiz algumas amizades que conservo até hoje.
Quando saí do programa resolvi estudar teatro e morar no Rio de Janeiro. Este período me deu muito prazer, e acabei participando de três peças. “Endependência”, de João Brandão; “A Missão Secreta de Tom Rilver”, de Moises Bittencourt; e “O Ateneu”, dirigido por Leo Bricio, Andre Mattos e Gaspar Filho. Esta última experiência foi incrível, pois contracenei com 42 jovens e montávamos e desmontávamos cenários em cada passagem de cena. E mesmo encontrando no teatro um momento muito especial da minha vida, ficou claro que esta não seria a carreira que eu seguiria.
Nesses anos todos eu continuava praticando Boxe e cursava faculdade de Educação Física. No Boxe cheguei a ser campeão carioca iniciante amador, treinando com o professor Raff Giglio, no Morro do Vidigal. Também participava do "Futebol de artistas", pelo qual viajava o país todo fazendo partidas beneficentes. Minha carreira de modelo sempre me seguia e era de onde eu tirava o meu sustento e um certo conforto. Nesta época conheci o fotógrafo Mario Testino, que me fotografou para revista Vogue alemã, e no fim de 2009 recebi o convite para estrelar a campanha de perfumes da Dolce & Gabbana com as tops Naomi Campbell, Claudia Schifer e Eva Herzigova. Isso alavancou minha carreira e recebi diversos convites de agencias internacionais. Passei uma temporada em Atenas, Grécia. Voltei para o Brasil, mas o regresso a Europa já estava programado, e a intenção era passar diversas temporadas trabalhando por lá.
No dia 4 de Julho estes planos foram interrompidos. Na volta para casa após uma partida de futebol acabei dormindo ao volante e acordando em um lugar cheio de luzes e cheio de pessoas com roupas brancas. Cheguei a me perguntar se ali seria o céu, pois ainda estava sob efeito de fortes medicamentos e analgésicos. Mas a situação foi se acalmando, fui tomando consciência dos fatos e entendi que estava em um hospital. Percebi que não estava sentindo minhas pernas e aquela sensação me causou desespero, porém uma força enorme, que não sei de onde veio, me tranqüilizou e comecei a viver dia após dia. Passei cinco dias na UTI, mas ali já sabia que estava fora de risco. Estava internado em um hospital público, mas com pessoas de extrema competência. Todos foram muito humanos e profissionais.
Familiares e amigos foram muito importantes no dia a dia, pois me serviam de "combustível" para não deixar "meu carro afogar". Passei um mês internado e logo fui para casa, onde fiquei por mais um mês. No terceiro mês fui para Brasília, no Hospital de Reabilitação Sarah, onde encontrei um lugar com pessoas que estariam vivendo uma realidade parecida com a minha. Lesões medular, lesões cerebrais e todo tipo de problemas. Isso me fortaleceu demais, pois pude ver que por mais difícil que fosse meu problema, ali tinha pessoas com dificuldades bem maiores, lutando com toda garra pela vida. Eu já estava decidido que não iria me entregar, e quando cheguei lá tive a certeza que realmente não me entregaria e sim deveria agradecer a DEUS pela oportunidade dada. Dei início à fisioterapia e posteriormente aos treinos físicos, mesmo que bem leves. Meu objetivo principal, logicamente era voltar a andar, porém não iria parar minha vida para esperar este momento, apesar de dar toda a minha dedicação por ele. Iniciei minhas atividades esportivas com musculação, corridas na cadeira, e caminhadas com ortese na fisioterapia. Isso me proporcionava um enorme prazer, poder me superar a cada dia. Foi então que me veio à cabeça a corrida de São Silvestre.
Com apenas três meses de lesão decidi que participaria da corrida que aconteceria três meses depois. Desde então meus treinamentos foram voltados para esse objetivo, paralelamente com a fisioterapia, pois a vontade de andar, sem dúvida, predomina. Aos quatro meses de Lesão fui transferido para a Sarah Lago Norte, que já seria um local voltado para reabilitação, diferente do outra Sarah que era voltado à parte Clínica. Lá pude dar ênfase aos treinos e me preparar para maratona. No dia 23 de dezembro voltei para São Paulo para passar as festas de Fim de Ano com minha família. O carinho dos meus pais, irmãos, parentes e amigos me fortaleceu muito, mas não conseguia deixar de pensar na corrida. E no dia 31 estava eu lá, no meio da Avenida Paulista, pronto para ultrapassar aquele meu objetivo.
Quando foi dada a largada foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida, pois foi um momento de reflexão. Apesar do "calor da prova" um filme se passou na minha cabeça relembrando minha vida toda ...... e isso me deu mais força para seguir os 15 km da corrida e enfrentar a subida da Av. Brigadeiro com a mão toda esfolada e em carne viva. Não poderia desistir de maneira alguma, pois eu sei que eu estava ali representando uma parte da população que estava vivendo momentos de dificuldades e que muitas vezes tem vergonha de sair de casa por preconceitos e pela falta de estrutura que temos no nosso pais.
E com o pneu furado acabei minha prova e ganhei o maior prêmio da minha vida, que foi o abraço de meus pais orgulhosos chorando por eu ter vencido essa "barreira". Hoje estou em São Paulo treinando e competindo numa modalidade diferente, a Canoagem, que me proporcionou não só um crescimento e engrandecimento físico como também mental. E ainda tenho FÉ e ESPERANÇA que as coisas vão melhorar, e enquanto isso vou ultrapassando e atropelando as dificuldades sem medo e utilizando a maior ferramenta que DEUS me deu, "O Esporte".”
Fonte: Site oficial Fernando Fernandes
Jornalista brasileiro, Foi editor-chefe da revista Rolling Stone Brasil, eé editor do portal IGN Brasil. Trabalhou nas revistas Nintendo World, EGM Brasil, Herói, Play e Pokémon Club.
Na Conrad Editora, manteve o site Gamer.br no portal IG entre 2006 e 2011, e o Blog do Pablo Miyazawa no portal UOL, em 2014. Já publicou trabalhos na Folha de São Paulo e nas revistas Superinteressante, Set, MTV e Status.
Começou sua carreira como "Powerline" da Gradiente (representante da Nintendo no Brasil) - o "powerline" dá dicas para jogos por telefone. Em 2015, foi o primeiro integrante da equipe editorial da filial brasileira do portal IGN, especializado em jogos eletrônicos. Em 2016, lançou o livro 52 mitos pop pela editora Paralela. Atualmente mantém a coluna "Mitos do Pop" no canal do site Adoro Cinema no Youtube.
Inquebrável - A história do atleta que se reinventou depois de perder o movimento das pernas. - Fernando Fernandes com Pablo Miyazawa - 238 páginas - Editora Paralela
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