“Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras “pai” e “mãe” produzem repugnância. Um mundo de pessoas programadas em laboratório, e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformismo. Um universo que louva o avanço da técnica, a linha de montagem, a produção em série, a uniformidade, e que idolatra Henry Ford.
Essa é a visão desenvolvida no clarividente romance distópico de Aldous Huxley, que ao lado de 1984, de George Orwell, constituem os exemplos mais marcantes, na esfera literária, da tematização de estados autoritários. Se o livro de Orwell criticava acidamente os governos totalitários de esquerda e de direita, o terror do stalinismo e a barbárie do nazifascismo, em Huxley o objeto é a sociedade capitalista, industrial e tecnológica, em que a racionalidade se tornou a nova religião, em que a ciência é o novo ídolo, um mundo no qual a experiência do sujeito não parece mais fazer nenhum sentido, e no qual a obra de Shakespeare adquire tons revolucionários.
Entretanto, o moderno clássico de Huxley não é um mero exercício de futurismo ou de ficção científica. Trata-se, o que é mais grave, de um olhar agudo acerca das potencialidades autoritárias do próprio mundo em que vivemos. Como um alerta de que, ao não se preservarem os valores da civilização humanista, o que nos aguarda não é o róseo paraíso iluminista da liberdade, mas os grilhões de um admirável mundo novo.”
“Pane no sistema, alguém me desconfigurou.” Desde que ouvi a música Admirável Chip Novo, da Pitty, sabia que tinha uma referência da obra Admirável Mundo Novo e sabia que esta tinha que entrar na minha lista de leituras e por muitos anos, ficou lá.
Demorei muito tempo para ter contato real com o livro, só em 2019 graças a uma promoção de loja virtual que fez com que a obra ficasse com um precinho muito do camarada. A edição que possuo é muito bonitona, daquelas que dá orgulho em ter na estante. A capa é bem sugestiva e extremamente relacionada ao tema da obra. Em um tempo onde todas as pessoas saem de uma linha de produção, o que acontece quando alguém sai da linha?
Em Admirável temos uma alegoria bem concreta nos apresentando um mundo onde todos somos iguais dentro das nossas bolhas e viemos já com a mentalidade bem treinadinha sobre como as coisas são, o que é certo e o que é errado e nem passa pela nossa cabeça questionar o estado atual das coisas. Afinal, sempre foi assim, não é mesmo?
A sexualidade exacerbada também é um ponto que o autor bate bastante e até aqui os termos dessa sociedade, que tem Ford como um deus, são utilizados para descrever as mulheres. Pneumática soa como um elogio para você?
Quando um cidadão, que está em uma determinada casta mas suas características físicas e emocionais não condizem tão bem assim com o ambiente em que ele vive, seus pensamentos começam a diferir dos demais, aí é que a coisa começa a ficar interessante. Na real promete ficar interessante, desculpem meus amigos, mas daí para diante eu e Huxley começamos a nos desentender.
Nem todo livro clássico é maravilhoso e nem todo clássico é completamente chato. E essa obra é uma crítica necessária e que continua extremamente atual, mesmo tendo sido escrita há tanto tempo, foi escrito em 1932. Mas, aí é que mora um grande mas, sei que temos que levar em conta o momento da época e o contexto em que ela foi escrita, seu estilo e tudo mais. Mas, voltando ao meu mas, eu fiquei todo o tempo de leitura esperando um clímax que nunca veio, na minha opinião. Quando eu achava que ia, não ia. Quando eu pensava, agora vai, não foi. Quando eu pensava, pronto vamos ter uma reviravolta aqui, não tínhamos.
Talvez era para ser assim mesmo, e eu, acostumada com outros tipos de narrativa, acabei criando expectativas em cima do que eu já havia lido em outras distopias e talvez esperando algo mais heroico que me tirasse da nossa realidade por alguns momentos. Mas não, o livro poderia sem bem real, o seu desenvolvimento é comum como todos nós e não tem um herói que vai liderar uma revolução. Aqui acontece o que acontece de verdade com quem contraria o sistema e até quem vai contra o sistema, continua dentro dele.
Dá uma agonia em perceber o quando estamos imersos em tudo isso e como é difícil, se não impossível, manter-se puro de tudo o que a nossa sociedade tem para oferecer. Para quem não se encaixa, não restam muita alternativa e, para quem questiona, menos ainda. E aí de você que ouse desafiar o sistema. Perigoso e pouco eficiente, por que abrir mão de tudo o que a sua zona de conforto proporciona para passar trabalho e ser odiado e visto como louco enquanto tenta mudar a realidade?
Desanima, não? O que me deixa feliz é ver que em nosso tempo sempre tem um louco, alguém que pensa fora da curva e nos leva a lutar pela mudança. Pode ser de pouquinho em pouquinho, passos de formiga ao longo de cada geração, mas prefiro acreditar que não vamos ser tomados pela apatia completa e sermos absorvidos pela linha de produção. Já vejo algumas bolhas trazendo e compartilhando o novo e é nelas que quero investir meu tempo em minha energia, em construir o novo e agregar. O mesmo, o igual, o de sempre, a gente vai deixando para lá.
Você queria um herói, Taíla? É isso que te deixou desconfortável nessa obra, não ter um Messias para seguir? Pois é, quer mudar a sua realidade? Faça você mesmo e lide com as consequências.
Aldous Huxley foi um escritor britânico nascido em 26 de julho de 1894. Autor da famosa ficção científica Admirável Mundo Novo, cresceu em uma família de classe alta e graduou-se em 1915 pela Universidade de Oxford em Literatura Inglesa. Indicado várias vezes ao Nobel de Literatura, lançou seu primeiro romance, Férias em Crome, em 1921. Viveu na Itália de Mussolini, lugar de onde tirou inspiração para o autoritarismo de suas obras, e também em Los Angeles, onde passou a escrever roteiros de cinema. Também publicou livros como Contraponto e A Ilha. Morreu em 22 de novembro de 1963, no mesmo dia que o escritor C. S. Lewis e o presidente americano John F. Kennedy.
Fonte: Estante Virtual
Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley - 314 páginas - Editora Biblioteca Azul
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